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Sagui furioso

Osmar Anderson

       -Seu Aparecido, ajude, corre lá em casa que tem um macaquinho quebrando tudo por lá.
       Era a Joaninha, menina de dez anos de idade, que morava a dois quarteirões dali. No caminho ela contou que a porta da casa havia ficado aberta e surgiu, não se sabe de onde, um sagüí enfurecido.
       Chegando à casa o Aparecido encontrou muitos curiosos, mas ninguém tinha coragem de chegar perto do animal. Como o Aparecido não era de perder viagem, aceitou o desafio de retirar o bichino de lá.
       Espanta daqui, cerca de lá, mas o animalzinho não estava cooperando. Em certo momento, o Aparecido conseguiu encurralar o bichinho em um canto da pia. O sagüi, sem saída ameaçava com seus dentes. Nesse instante o Aparecido pensou é agora ou nunca; ele levantou a mão esquerda para distrair o bicho e com a mão direita agarrou o sagüí pelo pescocinho.
       Agora estava o Aparecido com o sagüi literalmente embolado em sua mão e ameaçando mordê-la.
       Já no quintal da casa, após alguns minutos de indecisão o nosso herói, o Aparecido, achou uma saída; começou a rodar o braço direito rapidamente. Depois de umas trinta voltas ele arremessou o macaco para longe.
       Disse o Aparecido que o macaco seguiu cambaleante em direção ao mato.

 



Quanto pesa um bom cupim?

Osmar Anderson

       Um tema recorrente entre os supervisores era a gozação com o Aparecido sobre o peso de um bom cupim. Com muito tempo vivido em Araçatuba, terra do boi, praça na qual se estabelece a cotação do boi gordo a nível nacional, o Aparecido mostrava-se excelente conhecedor e apreciador de carnes. Era nossa referência quando se tratava de saber sobre a origem e o aspecto das diversas peças vendidas nos açougues. O grupo, porém, não perdoava o fato de ele ter dito que assara um cupim de 13 quilos. O pessoal sempre aproveitava esse dado para, nas horas de folga, iniciar algum papo e foi o que aconteceu certa vez em São José dos Campos.
       Fomos à Churrascaria Romani da Rua Luiz Jacinto, local de onde se tem uma bela visão do banhado e estávamos em meio ao jantar quando o “dono da casa” aproximou-se da mesa para dar as boas-vindas ao grupo e trocou alguma conversa conosco. Nessa hora o Claudinho, com cara de mal-intencionado, perguntou:
       -Seu Márcio, faz muito tempo que o senhor tem churrascaria?
       O anfitrião, com toda tranquilidade, respondeu:
       -Olha, nós, eu e meu irmão Celso, estamos no ramo prá mais de 8 anos.
       -Então o senhor já serviu muita carne, não? Retornou o Claudinho.
       -Claro. Em nossa casa comercializamos quase duas toneladas de cortes especiais por mês; tudo assado e servido primorosamente. Completou o sr. Márcio com certo orgulho.
       -O senhor já viu peça de cupim grande, não viu?
       Aí é que começamos a perceber para onde o Claudinho estava levando a conversa. O seu Márcio deu um sorriso largo e perguntou:
       -Com certeza, mas por que essa pergunta?
       -Eu queria que o senhor nos dissesse qual o peso do maior cupim que o senhor já viu.
       O seu Márcio, com ar de bonachão, coçou o queixo, olhou para o grupo e arriscou:
       -Bem, pra ser grande mesmo, eu diria uns 4 ou 5 quilos.
       Nessa hora o Aparecido avermelhou e atacou:
       -Então o senhor nunca viu cupim grande! Eu mesmo já assei cupim de mais de 10 quilos.
       O seu Márcio parou, pensou e devolveu:
       -Com mais de 10 quilos só se for corcova de camelo.
       Aí entrou a turma do deixa disso, bandeou a conversa para outro assunto e tudo acabou em festa. O fato é que até hoje não sabemos exatamente qual o peso de um bom cupim.

 


Tantabelha

Osmar Anderson

       Era primeira quinzena de agosto e o pessoal do Angar 3 estava dando uma geral nas instalações pois o dia 23 de agosto estava próximo e era fundamental que tudo estivesse bonito para a comemoração do Dia do Aviador. Nessas comemorações era muito comum a presença de visitas ilustres e de gente do local, sempre muito curiosa sobre as máquinas voadoras.
       Havia trabalho de todo tipo a ser feito e fora as manutenções programadas, o pessoal ia "catando" pequenos reparos. O Aparecido sempre muito disposto montou um andaime para repregar as tábuas do galpão. Ele contava com ajuda do Zé Pirineu, um catalão muito criativo que muitas vezes ajudava o pessoal no Angar.
       Assim que acabaram de almoçar subiram os dois no andaime e puseram-se a martelar as tábuas, algumas bem empenadas devido ao calor da região de Araçatuba.
       O serviço ia muito bem mas o que eles não contavam, é que a parede dupla do galpão abrigava uma colméia de abelhas europa que logo após as primeiras marteladas, puseram-se em posição de ataque do lado de fora do galpão.
       Até aí nada de anormal mas o mecânico Tio Takeshi, um japonesinho de uns 50 anos que usava óculos de 7 graus de miopia, vinha em sua bicicleta voltando do almoço e passou sob a nuvem de abelhas.
       Elas atacaram. O japonês apavorado abandonou a bicicleta e correu para dentro do galpão gritando: "tantabelha, tantabelha...”
       Lógico que o pessoal teve de evacuar o galpão e esperar a chegada do Américo do Mel, um vizinho apicultor que removeu o enxame do galpão. O serviço só foi retomado na manhã seguinte e o mecânico estava bem apesar das ferroadas.
       Dizem que até hoje o Zé Pirineu pergunta: "żEh Tio Takeshi, que és lo que passa?" E o japonês responde: "Tantabelha né."



 

Alô querida

Osmar Anderson

       Sempre que me dizem que a vida de Supervisor de Ensino é boa eu me recordo da história que o Claudinho nos trouxe e penso cá com meus botões “…é, mas a lição de casa precisa estar bem feita…”
       O caso se passou na cidade de Rio Claro, onde o Claudinho integrava uma equipe de supervisores. Conhecida pelo nome de Cidade Azul, essa cidade é sede de muitas cervejarias pois está numa região de águas de excelente qualidade. Mantém ainda características de cidade interiorana, pois alí pelas 18:30h o comércio baixa as portas e a cidade fica literalmente deserta.
       A visita transcorria normalmente e numa noite após o jantar o grupo sentou-se em um banco da praça em frente à Igreja Matriz para bater um daqueles papos.
       O pessoal estava bem descontraído, contavam piadas e riam bastante.
       A praça estava praticamente vazia, mas o Claudinho, com a percepção aguçada, notou que uma mulher quarentona que ocupava o banco ao lado estava com arte e deu um toque para o grupo. Todos passaram a observá-la.
       Passado algum tempo um rapaz moreno alto sentou-se ao lado da mulher e os dois ficaram conversando e demonstravam que estavam se entendendo. Aí o grupo percebeu que o negócio já estava fechado, faltando apenas definir o local da ação.
       Nesse momento deu-se, entre os dois, o seguinte diálogo:
       -Onde podemos ir?
       -Vamos para a minha casa, lá poderemos ficar tranquilos.
       -Mas você não disse que é casada?
       -Sou, mas meu marido é “supervisor” de uma cervejaria e está viajando…
       Disse o Claudinho que a partir daquele momento o grupo se desfez pois vários colegas se lembraram de que deveriam encontrar um telefone público para dar um “alozinho” pra família.


 


Epa, esse causo era meu!

Osmar Anderson

       Era meados de outubro, estávamos em visita de supervisão na Escola de Franca. Lugar quente mas muito agradável. Num final de tarde caminhávamos de volta para o centro da cidade, uma descida suave mas o calor era forte. Paramos para tomar um caldo de cana e enquanto isso falávamos sobre a moagem da cana e sobre o equipamento para produção de rapaduras, quando o Aparecido lembrou-se de um causo ocorrido com ele e seus irmãos em Araçatuba lá pelos anos 60.
       Dona Cícera era doceira e fervia a garapa de cana para produção de rapaduras e nessas horas os garotos se juntavam com a intenção de pegar um pouco de melado e de raspar o tacho após a fervura.
       Ela não se incomodava com as brincadeiras que rolavam entre os garotos desde que elas não acontecessem muito perto do fogo. Num desses dias, dona Cícera liberou o tacho e, como de costume, o Aparecido começou a se deliciar com o puxa-puxa que retirava do fundo. Foi aí que ele inventou de pegar uma bola daquela goma e deu para a Pina, uma égua de mais ou menos 7 anos que pertencia à família.
       Já imaginaram o que aconteceu? O doce colou as dentaduras da égua que ficou por mais de 40 minutos contorcendo o queixo para se livrar do puxa-puxa.
       Nesse momento, eu protestei dizendo: "Epa, espere aí Aparecido, esse causo era meu; aconteceu com meu pai lá na região do Rio do Peixe".
       O Aparecido com a cara de maroto emendou: "Espera você Anderson, eu ainda não terminei"; e concluiu o causo dizendo que após essa vez, sempre que ofereciam o doce para a égua Pina ela mostrava os dentes imitando um sorriso, balançava a cabeça e se afastava do grupo de garotos.
       Depois desse final, continuamos nosso caminho até o centro da cidade e o causo ficou dele...

 


A corda virá depois

Osmar Anderson

       Após o jantar na Costelaria famosa em Bauru, o papo rolava solto, o Carlão recordava a tragédia do Cessna 140 na qual o piloto Milton Terra Verdi registrou o dia-a-dia de seu drama, naquilo que se constituiu um verdadeiro "Diário da Morte". Falávamos de acidentes com pequenos aviões, quando o Aparecido se recordou de um caso passado com ele no início da década de 1970...
       ...Foi assim: Ele estava de serviço num angar do Aeroclube de Marília quando lhe disseram que havia uma encomenda de material e ferramentas para ser entregue ao seu Horácio, um sitiante estabelecido próximo à Faculdade de Agronomia de Paraguaçu Paulista. O meio de transporte disponível era o aviãozinho "pau pra toda obra" monomotor Piper L4 que todos já conheciam muito bem e que já era do angar há quase oito anos.
       O Aparecido prontamente se dispôs a transportar a encomenda do seu Horácio, pois era muito familiarizado com aquele avião ano 59. Ele juntamente com outros mecânicos já o haviam reparado inúmeras vezes. Dizia o Aparecido que era mais fácil pilotar aquele avião do que conduzir sua bicicleta.
       Por volta das 10 horas estava tudo pronto; a encomenda embarcada, o "check list" feito e lá vai o velho Piper para a cabeceira da pista pilotado pelo Aparecido.
       Após uma decolagem perfeita, pegou o rumo sudoeste por alguns minutos e em seguida rumo oeste. A partir de então era só se deliciar com aquela paisagem mais do que conhecida. O Aparecido adorava aquele avião de asa alta que propiciava muito conforto no vôo visual, pois a visibilidade era total.
       Depois de meia hora de vôo e faltando pouco mais de vinte quilômetros para chegar ao destino, o motor do Piper rateou feio e o Aparecido pressentiu que estava diante de uma emergência. Titubeou por um momento, mas lembrou-se da frase mais pronunciada nas primeiras aulas de vôo "não se apavore, mantenha a calma" e foi o que fez. Procurou manter-se dono da situação. Olhou ao redor e viu que estava na região de Lutécia, porém longe da estrada. O lugar com muitas árvores baixas, assim como toda a borda do Vale do Paranapanema, não permitia a aventura de um pouso mesmo para um pequeno avião.
       O motor do Piper estava quase "apagando" quando o Aparecido divisou uma pequena clareira logo à frente. Numa manobra espetacular mostrou toda sua habilidade na operação dos manetes e pedais e conseguiu colocar o avião no chão inteirinho, só muito empoeirado.
       Agora o nosso herói estava sem comunicação e com dois problemas: tinha que resolver a pane do motor que falhava e tinha que achar um jeito de levantar vôo novamente. O problema do motor ele matou de cara; falha na alimentação de combustível. Substituiu a bomba de combustível, o que foi extremamente fácil pois o motor do L4 é horizontal e permite acesso total aos componentes. Restava o segundo problema, sair dali.
       A clareira até que era grandinha mas tinha um complicador. Em seu centro havia um jatobá adulto com mais de vinte metros de altura e o espaço lateral não permitia a decolagem com um motor de pouco mais de 60 HP.
       O Aparecido não desanimou, lembrou-se dos conselhos do Jaime Cruz, um piloto experiente que no Aeroclube sempre orientava os mais novos: "faça a adversidade jogar a seu favor". Nesse instante o Aparecido quase que automaticamente disse: "Essa árvore que está atrapalhando vai me ajudar a sair daqui!". Como primeira providência ele pensou em se desfazer da encomenda de seu Horácio para diminuir o peso da aeronave, mas, de súbito, lembrou-se de uma aula de física em que se definiam as forças centrífuga e centrípeda. Aí o Aparecido pensou, pensou e achou a saída. Na encomenda de seu Horácio, fora as ferramentas, havia uns 40 metros corda de nylon; o tronco do jatobá era reto e limpo até a altura de uns 7 metros. Não deu outra. Com a corda, o Aparecido fez um elo em torno do tronco do jatobá e atou a outra ponta na sustentação da asa, bem próximo à carenagem. Limpou o que pode em volta da árvore e disse: "É tudo ou nada!" Aqueceu bem o motor do avião, acelerou o que pode, soltou os freios e o Piper começou a ganhar velocidade e altura em torno do jatobá. Alí pela terceira volta, o Aparecido que já estava ficando tonto, cortou a corda com o facão e pronto, estava voando novamente.
       Ali pelas 14 horas o nosso herói já estava com seu Horácio, desculpando-se pelo atraso e prometendo trazer a corda de nylon na próxima encomenda.
       Depois do causo contado pelo Aparecido o pessoal pagou a conta da Costelaria e saiu comentando baixinho sobre a história.
       Me lembro que no dia seguinte o Renato me cutucou e perguntou ao Aparecido se seria possível pousar naquela clareira usando o princípio das forças centrífuga e centrípeda. Ele pensou pensou e respondeu: "Olha Renato, acho que é possível sim mas além de bom piloto o condutor tem que ser muito bom de laço."

 

 

Imaginem a cara do urubu

Osmar Anderson

       Certa vez, em meados de novembro, saímos da Escola de Santos e, quando caminhávamos pela Ponta da Praia, vimos um aeromodelo radiocontrolado voando bem alto. Comentamos algo sobre esses aparelhinhos, quando o Aparecido lembrou-se deste causo passado em Marília.
       Em uma tarde quente e, próximo ao Aeroclube, percebia-se um bando de urubus (isso mesmo, urubus) que aproveitavam uma coluna de ar em ascenção para ganhar altura. Nesse momento, surgiu um grupo de garotos com um aviãozinho comandado por controle remoto e foram aproximando o aparelho do bando que ainda não estava muito alto.
       Os garotos, bastante habilidosos, seguiam precisamente o movimento das aves com o aeromodelo.
       O Aparecido, que observava a cena, encenou o modo como os urubus planavam de asas completamente estendidas e só se preocupavam em localizar o objeto estranho. Olhavam para a direita... olhavam para a esquerda... olhavam para baixo.
       Com a maior aproximação do aeromodelo, o bando foi ficando mais alvoroçado. Por fim, disse o Aparecido que os urubus estavam tão incomodados que começaram a bater suas asas como borboletas e se dispersaram.
       O interessante é que nessa encenação o Aparecido era extremamente preciso. Ele imitava perfeitamente as aves planando e olhando em volta à procura do avião perseguidor. Em seguida, começou a imitar suas batidas de asas. O esmero da imitação do Aparecido foi tão grande que ele, num momento de superação, chegou a fazer cara de urubu.

 

 

Agora você pode ir brincar, filhinha

Osmar Anderson

       Com esse título, vocês nem imaginam mas, vamos falar de culinária! Isso mesmo vou contar alguma coisa sobre os dotes culinários dos supervisores. Como diria o Parisi, “o pessoal não é fraco não!”
       Pois bem, na supervisão tinhamos os expoentes da cozinha, cada um na sua especialidade.
       O Walter era especialista em massas; ele influenciou muitos dos colegas que passaram a produzir seus próprios pães caseiros. Também era exímio pizzaiolo. Entendia como poucos sobre as característcas das diversas coberturas. Nos encontros familiares que ocorriam à noite, o Walter era sempre requisitado. Demonstrava muita agilidade na organização da “linha de montagem” das pizzas que ficavam deliciosas. Nas viagens da supervisão era ele que dava as cartas na escolha da pizzaria e na hora dos pedidos.
       Quando se tratava de preparar um bom churrasco, o dono da bola era o Mágno. Ele não tem nada de gaucho, é descendente de espanhol. Empolgava-se todo diante de um convite para uma festa, arregaçava as mangas e punha-se a trabalhar. Por diversas ocasiões o Mágno se encarregou das festas da supervisão, mas merece registro um encontro que fizemos e que reuniu todos os supervisores e seus familiares no Clube de Campo da AES. Eram mais de cento e cinquenta pessoas, sem contar as crianças. Vários colegas trabalharam na sua organização: a Célia, a Eliana, o Pasquale, o Walter, o Tadeu e o Ariovaldo, todos sob a liderança do Mágno que no dia do encontro atuou como “Churrasqueiro Chefe”. Foi uma festa memorável, até hoje lembrada pelos familiares dos colegas. Tudo funcionou perfeitamente, o ambiente estava ótimo. A qualidade e apresentação da comida servida era de primeira. Para finalizar tivemos até bolo com cobertura de coco queimado.
       Correndo por fora havia outros “mestres da cozinha” sempre com suas receitas maravilhosas, eu mesmo cheguei a experimentar algumas delas com certo sucesso. Destaco a receita do “bobó de camarão” trazida pelo Sílvio Cruz pois, até hoje, meus irmãos comentam sobre o prato que fiz como se fosse uma especialidade minha. Também vale registrar o requinte dos pães de mel, receita trazida pelo Hernani, que até hoje dão água na boca só de lembrar.
       Para não dizer que a experiência culinária da supervisão foi só alegria, vou citar alguns insucessos que constituem o folclore do nosso grupo. Um dia o Hernani trouxe-me uma receita, bem explicadinha, para se fazer amendoin doce. Meus filhos eram pequenos e armei a maior expectativa sobre o doce que faria. Peguei todos os ingredientes (conferidos mais de dez vezes) e fui para o fogão. Coloquei na panela o amendoim, o açucar e o chocolate e comecei a mexer ao mesmo tempo em que contava histórias para as crianças. O fogo não estava alto mas não sei como aconteceu, o amendoim começou a soltar um óleo e a fazer fumaça. Chegamos a um ponto em que tive de desligar fogão e abrir portas e janelas para dispersar a fumaça pois não se enxergava nada. A casa ficou defumada por vários dias e a panela ficou irrecuperável.
       Outra situação muito engraçada aconteceu entre o Zambanini e o Peruzzi. Era uma época em que se fazia sorvete caseiro sem emulsificante ou essências e para melhorar sua consistência usava-se um pouco de gordura vegetal. Pois bem, o Zamba jura que passou a receita certinho mas o fato é que o Peruzzi adicionou 500 gramas de gordura vegetal ao invés de 150 gramas. Disse o Peruzzi que o sorvete ficou muito vistoso, só que ele não provou de imediato. Sua filha de 9 anos foi a primeira a encher a taça. Contou que a menina pôs-se a mastigar o “sorvete” e nada de conseguir se livrar dele. Depois de algum tempo ela virou-se e perguntou: “Vou ter de comer todo esse sorvete, papai?” Ele experimentou uma colherada e disse: “Não, agora você pode ir brincar, filhinha.”

 

 

Credo tio, conta essa história direito...

Osmar Anderson

       O Aparecido era um herói (eu disse era); pode perguntar a seus sobrinhos. Pois é, ele exercia a liderança em todos os momentos e os grupos dos quais participava eram sempre bem sucedidos. Os garotos diziam que ele entendia de tudo: de aviação, de pesca, de construção, de caça, de mecânica, de lutas, de jogos; de qualquer coisa.
       Vivera boa parte de sua juventude em cidades do interior e antes dos trinta anos passou a viver na Grande São Paulo. Como não podia deixar de ser deu-se muito bem na cidade grande, tinha um excelente emprego, uma bela casa, um automóvel novo, modelo Santana, todo equipado...
       Após algum tempo na cidade de São Paulo, o Aparecido resolveu visitar os amigos em Araçatuba e pra lá foi com seu carrão que mais parecia uma nave espacial. Virou notícia na cidade; “o tio Aparecido veio!!!” gritavam os meninos.
       À noite, improvisaram uma pequena fogueira em torno da qual estavam o Aparecido e os garotos maravilhados diante daquele mito vivo. O Aparecido, muito fluente, recontava todos os causos e histórias que conhecia o que ia deixando os garotos cada vez mais curiosos.
       Em dado momento, o Aparecido percebeu que vários sobrinhos estavam dispostos até a largar os estudos para se aventurarem precocemente na Capital. O Aparecido, com grande habilidade começou então a falar dos riscos em se mudar para um lugar distante e desconhecido. Contava que era necessário estar bem preparados e maduros para enfrentar as dificuldades que encontrariam. Mesmo assim, os garotos demonstravam interesse em seguir os passos do “grande herói”. Ai o Aparecido começou a apelar: Passou a dizer que na cidade grande as pessoas vindas de outras cidades ou regiões eram muito discriminadas e hostilizadas; Dizia que quando os paulistanos encontravam um “forasteiro” agrediam com palavras de baixo calão, chutavam, etc. Estava dando certo, os garotos começaram a ficar com medo da cidade. Ai o Aparecido exagerou; detalhou tanto que parecia experiência vivida; disse que qualquer motivo servia de pretexto para que um migrante fosse preso e que na cadeia, sofria abusos de toda ordem, inclusive “era feito mulher” pelos outros presos. Nessa hora Zezo, o sobrinho mais novo, falou apavorado: “Credo tio, conta essa história direito, quantas vezes o senhor já foi preso lá???” O Aparecido teve que fazer o maior malabarismo verbal para manter sua reputação e logo que pode acabou com a reunião em volta do fogo.
       O fato é que o Aparecido foi convincente demais; a tal ponto que nenhum dos garotos pensa mais em viajar para a Capital; alguns até evitam falar do tio.

 

 

Essa eu não perdôo!

Osmar Anderson

       Na Supervisão você tem que ficar esperto. Um grupo de pessoas maduras, em geral de personalidade forte, alguns muito matreiros que desde a infância conhecem aquela “malandragem da rua”, do jogo de palavras, etc. Alguns sempre faziam questão de, nas reuniões e até nos restaurantes, tomar lugar na cabeceira da mesa e ficavam desconfortáveis quando outro dividia essa “posição de mando” com ele. Outros eram especialistas em cobrar o paralelismo do raciocínio nas discussões e não perdoavam deslizes ou inconsistências. Nas Escolas você ficava sempre em poder das chaves da sala que ocupava, para evitar um constrangimento de ser trancado nela. Tudo isso era muito hilário, ao mesmo tempo que se constituia num importante elemento de cobrança quanto à postura do supervisor. O trabalho em grupo não permite que um elemento desavisado coloque em risco o desempenho ou o cartaz do grupo.
       Interessante que essa cobrança extrapolava o horário de trabalho e se fazia presente em todos os encontros de supervisores e temos algumas “pérolas” boas de serem contadas. Aqui vai uma delas: Era mês de abril e um grupo de supervisores faria uma visita à Escola de São José do Rio Preto. Tudo acertado, marcaram encontro no “lugar de sempre” na Rodoviária. No dia da viagem dois supervisores madrugaram e chegaram um pouco antes no Terminal Tietê e, não resistindo à tentação, compraram umas goiabas de um vendedor ambulante. Lavaram as goiabas no bebedouro do andar superior do Terminal e sentaram-se nas cadeiras para comê-las. Até ai parece que está tudo certo, não parece? Pois não estava! Esses supervisores tomaram a maior bronca do Carlão. O Carlão descreve o entrevero assim: “Essa eu não perdôo! Onde já se viu supervisor comer goiabas de óculos escuros?”
       O pior é que os dois estavam comendo as goiabas, parecendo o General Mac Arthur, com seus óculos de sol.

 

Você se recorda de algum "causo" interessante ocorrido na Supervisão entre 1.982 e 1.992?
Então entre em contato conosco:
orander@terra.com.br